“Eu não me compreendo” disse ela. Indagou-se sobre o porquê dos raios de sol lhe ofuscarem as lágrimas e então mergulhou num canto escuro. Um canto que andava perdido no fundo do corredor mas que subitamente lhe pareceu familiar, demasiado carregado com lembranças que ela recusava. E então ele chegou. Não parou para lhe sorrir. Limitou-se a emitir um grunhido que ela conseguiu decifrar. Ele era distante. Tão distante que passava os dias longe dela. E ela não se apercebia ou fingia nada saber. Continuou aninhada. O cabelo todo emaranhado. “Podes sair” disse ele. Ela continuou cabisbaixa. Parada. E nem sequer ergueu os olhos para vislumbrar aquela pessoa que lhe grunhia frequentemente. Era um grunhido tímido mas tão quotidiano que ela pensou que tudo ficaria exactamente igual. Não se mexeu. Ele saiu do canto escuro e depressa respirou o ar puro da sala atravessada de luz. Sentou-se. Atirou os sapatos (era uma prática comum). Ela não se mexeu, ficou no canto, escondida. “Vais ficar aí todo o dia?” perguntou ele. “Vou.”
sábado, abril 22, 2006
O dia em que nos tornámos sós
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1 comentário:
Ela não se compreendia.Ele conhecia bem...
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